sexta-feira, 22 de abril de 2011

Paul.

Desde que comecei a acompanhar In treatment, mudei completamente minha visão sobre a terapia. Quebrei muitos preconceitos que eu tinha e que muitas pessoas devem ter ao achar que as pessoas que entram na terapia são menos conscientes que você. Acabei percebendo que é algo bem mais simples: Compartilhar o que acontece com sua vida, os males e os bens, tudo o que há de errado e certo para que alguém possa ouvir e ajudar você a passar por um problema.

Ao assistir os episódios do seriado, comecei a me encantar com a dinâmica que existe dentro de um consultório. Ter a certeza de que alguém vai ouvir desde a coisa mais boba até o maior dos seus segredos e que ele nunca irá  usar isso contra você é realmente encantador. No entanto, admitir que há um problema que requer atenção é o principal bloqueio que existe entre o caminho da sua casa até o consultório para uma primeira consulta.

Experimentei isso há um tempo atrás. Passei algumas semanas planejando ir ao bloco de Psicologia da universidade, procurar tratamento. Quando os ponteiros marcaram a hora certa e faltavam alguns passos para entrar na sala e marcar a consulta, eu simplesmente não consegui. Pensei que mesmo que fosse necessário, seria demais pra mim procurar a origem dos problemas e acabar descobrindo mais coisas que pudessem permanecer na minha cabeça. Fiquei com medo.

Antes de mais comentários, vale a pena explicar algo que talvez não tenha ficado claro para alguns leitores. A minha intenção ao criar este blog, foi mostrar que alguns fatos que ocorrem em seriados com alguns personagens, parecem de alguma maneira com coisas que aconteceram comigo. Aqui, eu conto a relação do que aconteceu no seriado com a minha vida. Não vivo forçando situações para que elas se tornem mais um motivo para que eu escreva. Elas apenas acontecem e eu escrevo sobre isso.


Eu estava em mais um período confuso. Até mesmo escrever, uma das poucas coisas que me dão prazer, ficou difícil. Acabei me colocando em uma cilada literária. Em janeiro, eu assisti o episódio de In Treatment que me motivou a escrever este capítulo. Tratava-se de mais uma sessão do psicólogo Paul, como paciente de sua ex-professora da universidade, Gina. O paciente percebera que muita coisa em sua vida havia perdido o sentido, e em certo momento do diálogo, Paul diz: "I hate my life. It's broken. Every day... It hurts".

Foi essa a frase que me chamou a atenção. Cheguei a me sentir por alguns segundos no consultório da Gina, pensando em alguma solução. Eu estava me sentindo exatamente como Paul, que estava passando por um período de grandes mudanças na vida. Assim que o episódio acabou, senti vontade de vir aqui e desabafar, mas acabei me deparando com algo que até então eu não havia percebido. A minha enorme dificuldade de cumprir tarefas, de fazer as coisas até o fim.

Cheguei a começar a escrever duas vezes o início deste capítulo, mas sempre havia alguma coisa que me roubava a atenção, fazendo com que eu adiasse a reflexão que o ato de escrever me provoca. No entanto, adiei por tanto tempo, que quando senti vontade de escrever, já não estava tão insatisfeito. Eu e Paul já não estávamos em sintonia, não havia mais sentido em escrever naquele momento.

O tempo me levou até a data de hoje, período em que fiquei de férias do trabalho, e continuei na universidade. As minhas tardes ficaram livres. Livres demais a ponto de eu não ter mais nenhum ofício para que eu pudesse me segurar e me manter ocupado. O ócio sempre me faz pensar nas coisas certas em momentos errados. Para qualquer pessoa, tempo livre seria útil para se dedicar a algo que lhes desse prazer, algo que lhes colorisse a alma. Mas perco tempo demais juntando pedaços de algo que se quebrou há mil dias, que eu insisto em tentar dar um jeito, em colocar tudo junto de novo, em tornar pelo menos apresentável.

Não há algo que me deixe mais constrangido do que perceber que certas coisas que eu fiz, magoaram pessoas. Sinto falta de ser egoísta as vezes. Sinto falta de pensar em mim, de ter cuidado comigo antes de tentar melhorar a vida das pessoas que eu infelizmente atrapalhei.

Os dois últimos parágrafos são motivo suficiente para eu entrar na terapia, mas acho que vou ficar sempre na dúvida até que a coragem apareça e me faça dar mais alguns passos até o consultório da próxima vez. Estou despedaçado como Paul. Todo dia... dói. Continuarei colhendo devagar cada pedaço da minha vida e criando coragem para que eu possa apresentar tudo para quem eu escolher ser a guardiã dos meus segredos, a minha terapeuta.


Next Episode: To be announced. 

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